7.8.09

Roda de Funk no Dona marta

Todo sabemos que a comunidade do Santa Marta vem sendo ocupada pela PM do Estado do Rio de Janeiro, certamente que não é interessante para ninguém ter que conviver com a presença de homens tensos e fortemente armados, bem como não deve ser confortável ter que conviver com a incerteza da continuidade desta condição, pois qualquer mudança pode trazer novos riscos com antigas estruturas de poder. Pois bem, também sabemos que esta instituição regularmente vem sendo acusada de desrespeitar os direitos mais essenciais dos setores mais empobrecidos de nossa sociedade, notadamente: Jovens negros de origem social menos favorecida. Vimos acompanhando com muito carinho denuncia de moradores da referida comunidade que afirmam que ocorrem alguns abusos na citada ocupação, ainda que tenhamos que relativizar esta suposta afirmação, infelizmente temos tido clareza de depoimentos que sugiram a veracidade destas afirmações. Uma destas denuncias que temos de receber é a que diz respeito à proibição da execução do Funk na comunidade esta, aliás, tem sido uma constante nos locais em que temos uma ação das forças de segurança deste estado, ou seja, há uma identificação, ou melhor, uma equivocada interpretação de que esta manifestação cultural esteja diretamente ligada às ações perpetradas pelo comercio varejista de drogas. Ocorrem-me outros momentos de nossa história, quando também convivíamos com as forças públicas de segurança e suas torpes interpretações, imediatamente me vem à cabeça a proibição da Capoeira, quando os negros escravizados e, portanto pertencentes a uma condição social de exclusão, que em detrimento de estarem construindo esta nação, em determinado momento ao praticarem aquele misto de jogo e dança eram colocados na chamada condição de vadiagem e por esta razão detidos. Igualmente torpe, e não menos preconceituosa, foi a interpretação de que o terreiro de Tia Ciata seria um pólo de vadiagem e não um celeiro de artistas. Convém ressaltar, que aí há muito pouco do que venho chamando de ”torpe interpretação” e sim, a assunção de um modelo, uma prática de criminalização dos setores que não pertençam a uma casta dominante, ou seja, a história nos mostra que as elites deste país não se contentaram em excluir, segregar, tirar de circulação, humilhar, escravizar. Se preciso fosse eles removeriam até o morro do Castelo... Porém ainda faltava um elemento determinante nesta engenharia de exclusão, colocar os setores excluídos na condição de marginalidade. Portanto, aos que construíam as leis restava buscar na elaboração destas a proibição, impor novos limites. Assim foi a “bela epoque”, do não menos segregador: Pereira Passos, este, aliás, venerado por alguns governantes atuais, quando ao criar no Rio de Janeiro uma caricata cópia da capital francesa tinha como anteparo para este devaneio um conjunto de proibições, aos negros recém libertos. Uma destas proibições foi à desativação, com conseqüente demolição, do casario que davam origem aos cortiços do centro da cidade, esta desapropriação em massa não se resumia aos casarios que de forma maquiavélica eram acusados de disseminarem doenças, ela ainda iria se estender ao morro do Castelo que deveria ser removido aos olhos da elite que por ali se espraiavam. O fato era que os negros recém libertos não poderiam
“macular” a bela imagem que vinha sendo construída, aliás, tínhamos até andorinhas importadas da França e os negros descalços não combinavam com a composição deste quadro. Neste cenário, o leque de opções foi se estreitando é quando surgem as encostas próximas dos grandes centros, o que posteriormente, em função de vegetação predominante, seria conhecida por Favelas. Ainda neste conjunto de retaliações vinham as constantes retaliações ao samba realizado na Praça Onze, celeiro de grandes artistas marginalizados a época, tais como: Donga, Cartola, Manodécio... De forma criativa os negros que ali se apresentavam encontraram uma forma de burlar as constantes perseguições policiais, um dos moradores que participavam da movimentação era o motorista do delegado da Delegacia da área e sob o pretexto de realizar alguma comemoração, o marido de Tia Ciata, realizava os festejos que dariam origem ao apogeu do samba.
Portanto, antenados com a necessidade de valorizarmos todas as expressões culturais de todas as juventudes desta cidade é que seguimos acompanhando o desdobramento de mais um triste episódio da história de nossa São Sebastião. Aqui faremos uma trincheira pelo desejo de termos uma cidade livre de todas as formas de opressão, sejam elas oficiais, ou não.
O vídeo abaixo mostra uma ação de apoio aos artistas daquela e de outras comunidades, que de forma organizada e muito coerente, reuniram-se para protestar contra esta nefasta tradição do poder em nosso país. E com muita alegria, rima, métrica, ritmo e principalmente certeza de que não vamos permitir que, mais uma vez, tentem calar nossa juventude. Produziram um alegre e criativo recado aos homens e mulheres que eventualmente estejam no poder: que estes percebam que ao tentarem inibir toda e qualquer manifestação cultural neste país, sempre encontrarão a reação popular, assim como os capoeiristas ganharam os corações e mentes de nossa população, nós continuaremos na resistência por uma sociedade que todos possam cantar alegremente na cidade em que nasceram.

POR UM RIO DE JANEIRO, SEM MÍLICIAS, SEM TRÁFICO E SEM OPRESSÃO DO ESTADO.



Vídeo produzido pelo Visão da Favela Brasil, do morro Santa Marta. www.visaodafavelabr.blogspot.com

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