Cada vez mais se faz oportuno tentar
relativizar o conceito de baderneiro, ou melhor, compreender a identidade deste
personagem criado pelos analistas oficiais, da mídia oficial que se arvora no
papel de analisarem, supostamente de forma isenta, as manifestações que sacodem
o país, bem como seus personagens, seus papéis, suas organizações, suas formas
de se reunirem, de decidirem, suas reações, às vezes intempestivas, seus
rompantes e até seus erros, mas estes mesmos analistas recusam-se a
interpretar, na mesma proporção os acertos, exemplos de organização,
demonstração de maturidade, demonstração de esperança, civilidade e porque não
dizer interpretar a razão desta angústia, desta ira, deste desencantamento que
dá vez a uma nova possibilidade de se construir um novo mundo calcado em novos
valores. Este grupo de pessoas que estão
indo as ruas, em sua maioria, jovens, estão sacudindo o país e toda sua
estrutura corrompida, porém os analistas da mídia oficial insistem em
analisá-los dando ênfase aos seus erros e nunca ressaltando os seus acertos.
Quem é o verdadeiro Baderneiro? Qual
o seu papel neste momento de tensão que o país passa? Qual o seu lado? Ele foi
quem criou este problema? Ou ele é quem reclama o problema?
A primeira
e mais simples das observações que se tem é a de que um grupo de manifestantes
provavelmente ligados a algum partido político, como se isto fosse execrável; e
não é, estivessem se manifestando e consequentemente destruindo, depredando,
sujando tudo que devesse ser preservado, como se esta fosse uma consequência
direta do ato de manifestar-se, portanto esta uma ação repugnante, pois toda
manifestação já seria em si um ato de interpretação negativa.
Quando na
verdade estas manifestações, que por ora ocorrem, quase sempre começam de forma
pacífica, porém na maioria das vezes, infelizmente, não termina da mesma forma,
importante ressaltar que estas manifestações ocorrem porque um grupo de
governantes fez exatamente o que supostamente os manifestantes tidos como baderneiros
estariam sendo condenados de fazerem, ou seja, destruindo, depredando,
sujando... E é exatamente aí que surge esta enorme contradição, pois quando um
grupo de pessoas resolve ir à luta e se manifestar contra o desmando de um
grupo de governantes e suas falcatruas, ações estas que atingem toda uma
população, setores desta mesma população aviltada se negam a admitir primeiro
as razões que estimularam esta ida às ruas; Segundo, uma vez que estas ocorram,
é preciso identificar e identificando admitir as artimanhas das forças políticas
e de segurança destes governantes denunciados, que habilmente se apressam em criar
uma atmosfera de conflito urbano, desordem, guerra, enfrentamento público,
balburdia, com o intuito de disseminar o medo; e por fim e de forma derradeira
aceitar como algo positivo a organização e a ida às ruas de segmentos imensos
de nossa juventude.
Esta é
primeira grande contradição deste processo - setores da população aviltada não admitem
a manifestação, ainda que estas sejam contra os mesmos governantes corruptos
que estes mesmos setores condenam, portanto também são vítimas. Consequentemente
estes mesmos atores deste segmento aviltado, uma vez que condenam esta ação, mascaram,
fingem, escamoteiam, criam desculpas estapafúrdias para negarem a veracidade
das manifestações quando no fundo o que desejavam é que estas não ocorressem.
Esta é a face hipócrita deste segmento, pois ainda que vilipendiado,
expropriado, ofendido, magoado... Estes setores preferem condenar a organização
política que vise a transformação social, pois estes segmentos ainda que se
locupletem deste modelo de sociedade, ainda assim, quando detectaram alguma
injustiça não foram capazes de se organizarem na contramão do modelo proposto,
portanto qualquer ação de mudança os coloca em conflito com o seguinte
paradigma: A partir da negação deste modelo, está ocorrendo uma mudança, com o
qual você concordou, não fez nada para mudar e ainda beneficiou-se dele. O que
esta juventude está fazendo agora é dizer não a isto tudo que um dia setores da
sociedade ou disseram sim, ou ficaram calados e como bem sabemos; quem cala
consente. Agora que um novo grupo de pessoas está indo às ruas e dizendo não, estas
pessoas, estes setores mais abastados, estas estruturas de poder que se
locupletaram, os analistas dos canais midiáticos que servem a estes segmentos correm
a criar uma atmosfera de negação do novo.
Pois as coisas não deveriam mudar afinal o país está avançando, uma
chacina aqui, outra ali... Ora as coisas são assim mesmo, contudo as ruas
insistem em gritar: Não as coisas não devem ser assim como estão.
E aí então
os manifestantes que saíram às ruas, para reclamarem das ações destes mesmos
governantes são tidos como baderneiros, os que não aceitam calados, os
inconformados, pois na lógica que prevalecera até então esta era a ordem
natural das coisas. Os governantes que verdadeiramente são os causadores da
baderna lançam mão de toda a estrutura que governam, inclusive das forças policiais,
criam um caos urbano e habilmente através de seus canais midiáticos criam um
personagem fictício que é o baderneiro e ironicamente o manifestante aviltado
que saiu às ruas contra a baderna dos governantes vira o causador do problema.
É esta a atmosfera
de criação do estigma do baderneiro; um grupo da sociedade que teme a mudança,
um outro grupo desta mesma sociedade que teme que nada mude e no meio desta
dinâmica a certeza de que seja qual for a retórica vencedora um ou outro grupo
será obrigado a conviver com a pecha de pertencer ao segmento que fora
derrotado em suas convicções, em suas ideias...
Aí acontece
o inesperado, ou seja, a população antes incomodada com a ação dos governantes
não se volta contra estes governantes, ao contrário, a população incomodada com
o caos, se volta contra os manifestantes, pois estes agora são os baderneiros.
Entendeu?
Então responda; quem é o Baderneiro?
O Manifestante ou o Governante?
Nenhum comentário:
Postar um comentário