Em uma sociedade que não tolera as mudanças, ainda que estas eventuais mudanças não signifiquem efetivamente a alteração da ordem de favorecimento aos setores mais abastados da sociedade, toda e qualquer alteração nas estruturas de poder mexem com o poder estabelecido. Contudo, estes mesmos setores se sentem ameaçados a toda e qualquer possibilidade de mudança em relação a esta ordem de favorecimento comum nas sociedades capitalistas, ditas desenvolvidas, pois ali evidencia-se à divisão de classes, exatamente neste modelo societário a Educação não objetiva a formação uniforme, ali não há interesse em tornar todos iguais. Assim, o saber configura-se como privilégio de uma minoria em detrimento da ampla maioria da sociedade.
É neste sentido, que o ENEM vem sendo alvo de inúmeras tentativas de desmoralização, pois o seu sucesso coloca em cheque uma das mais antigas formas de manutenção do privilégio dos mais abastados no tocante a Educação que é o Vestibular. Ainda que saibamos que o ENEM siga a mesma lógica cartesiana de valorização da melhor média, que em sua essência, nega, ou melhor, omite todo o histórico de escolha dos segmentos que irão acessar as melhoras modalidades de ensino. Escolha esta, produzida através da mercantilização do saber que cria um cenário onde os mais abastados têm seus estudos e a consequente produção do conhecimento garantidos e os menos favorecidos acotovelam-se em escolas depauperadas em que apenas concluem sua etapas de ensino onde a produção do conhecimento passa ao largo.
Neste cenário, toda e qualquer nova proposição que anuncie uma nova possibilidade encontra as mais duras reações.
Que fique claro que a intenção deste artigo é de chamar a atenção às oposições mais conservadoras às perspectivas de se repensar a característica elitista da Educação brasileira, e não a defesa incondicional desta nova formatação de escolha, ainda infelizmente elitista, que é o ENEM.
Abaixo segue cópia de uma entrevista do Ministro da Educação Haddad que deixa transparecer, em parte, esta ruidosa reação;
Haddad diz que vazamento de questões do Enem 2011 foi 'ato delituoso'
Demétrio Weber (demetrio@bsb.oglobo.com.br)Globo News
BRASÍLIA e RIO - O ministro da Educação, Fernando Haddad, disse nesta quinta-feira que o vazamento das 14 questões do Enem 2011 para estudantes do colégio particular Christus, em Fortaleza (CE), foi um "ato delituoso". Haddad tem a convicção de que dois dos 36 cadernos de pré-teste do Enem foram reproduzidos e distribuídos aos alunos pelos professores do Colégio Christus, em Fortaleza. Ele contou que chegou a essa conclusão com base em duas evidências que incriminam a escola.
Segundo o ministro, as apostilas distribuídas aos alunos dias antes do Enem, com pelo menos nove questões iguais às do exame, são réplicas de dois cadernos utilizados pelo Inep para pré-testar itens do Enem no colégio Christus, em outubro do ano passado. Além disso, Haddad afirmou que estudantes da escola cearense telefonaram para o serviço de 0800 do MEC e relataram ter recebido as apostilas no colégio, com a recomendação de que o material era sigiloso e não deveria ser distribuído a colegas de outras escolas.
- Está configurado o ato delituoso. Não há mais dúvida a respeito. Não foi por processo de memorização ou aleatoriedade que esses itens chegaram ao conhecimento dos alunos
O ministro disse que conversou com o diretor-geral da Polícia Federal e que ouviu que as informações já disponíveis sobre o caso indicam que será possível elucidar quem foram os responsáveis pelo vazamento.
Haddad disse que não há informação de que outras escolas tenham recebido o material distribuído a alunos do Colégio Christus. A afirmação está baseada no monitoramento que o MEC faz em redes sociais, acompanhan do mensagens postadas por estudantes.Ele aproveitou para defender o Enem:
- O Brasil evidentemente está se deparando com uma coisa nova (Enem), mas é um passaporte importante para o seu futuro, o seu desenvolvimento. Quase a totalidade da população entende assim, a maioria expressiva reconhece esse instrumento.
MPF no Ceará ajuiza ação pedindo anulação do Enem
O Ministério Público Federal no Ceará vai ajuizar uma ação civil pública pedindo a suspensão da medida do MEC de realizar um novo Enem apenas para os 639 alunos do Colégio Christus, de Fortaleza, nos dias 28 e 29 de novembro. Na ação, o procurador da República Oscar Costa Filho também vai propor a anulação da prova para todos os candidatos ou pelo menos das 14 questões que vazaram.
Para o ministro, não faz sentido a proposta do Ministério Público Federal de cancelar nacionalmente o Enem ou as questões vazadas. Ele argumentou que o SAT, teste de seleção de universitários nos Estados Unidos, enfrenta tentativas de fraudes rotineiramente e que a solução adotada é cancelar o exame apenas das pessoas envolvidas.
Segundo Haddad, a possiblidade de refazer a prova é o antídoto do Enem contra irregularidades.
- O SAT existe há 40 anos. E, todo ano, entre 1.000 e 2.000 testes são anulados por fraude. Não é por erro. É fraude ou indício de fraude.
Para o diretor do colégio Christus, Davi Rocha o mais correto seria a anulação das questões e que seus alunos não podem ser penalizados porque "não cometeram qualquer ilícito", informou em nota. Ele nformou que vai recorrer na Justiça da decisão classificada como "ilegal e abusiva".
O diretor acrescenta que alunos de outras escolas também podem ter tido acesso ao material produzido pelo Christus e por isso a melhor forma de resolver o problema seria a anulação das questões.
"Como a identificação dos alunos que tomaram conhecimento prévio das questões é improvável, a lógica, o bom senso e a legalidade impõem, como solução, a anulação das questões coincidentes, como forma de restabelecer a isonomia", defendeu ele em nota.
Histórico de problemas desde a mudança de formato em 2009
Desde 2009, quando o Enem passou a substituir o vestibular e servir como prova de acesso à graduação em diversas universidades federais em todo o Brasil, o exame foi marcado por uma sucessão de problemas. Naquele ano, houve o furto de uma das provas e o vazamento de seu conteúdo às vésperas de sua aplicação. O exame foi adiado por dois meses. Mas os problemas não pararam por aí. Candidatos também tiveram o local de prova alterado, e houve confusão no dia em que o exame foi aplicado em vários pontos do país. O gabarito também foi divulgado com erro.
Caso as provas sejam reaplicadas apenas para os 639 alunos do Colégio Christos, não seria a primeira vez que isso ocorreria. No ano passado, cerca de dois mil candidatos precisaram refazer parte do Enem devido a erros de impressão no caderno de questões de cor amarela. O segundo exame desses candidatos foi realizado junto com o dos presidiários. Em 2009, o mesmo ocorreu no Espírito Santo, quando fortes chuvas atingiram o estado e impossibilitaram a realização do exame.
Isso só é possível sem ferir a isonomia do concurso porque desde 2009 é utilizada a Teoria da Resposta ao Item (TRI) no cálculo da pontuação final. Pela TRI, as questões são divididas em três categorias - fácil, médio e difícil - e têm pesos diferentes. A introdução dessa metodologia, já utilizada em diversas avaliações de larga escala, como o SAT americano, permite a comparação de resultados dos candidatos, mesmo que não tenham respondido às mesmas perguntas.
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