24.10.09

A força e a Lei !!!

A retórica absolutista da eliminação do outro:
Quando da ocasião da colonização da Ilha de Vera Cruz os primeiros educadores que aqui chegaram vieram com o papel de catequizar os índios, ou melhor, o gentio. Naquela oportunidade o que estava em jogo era a conversão destes em signatários do cristianismo.
Naquele momento aos infiéis, indóceis, rebeldes ou preguiçosos, a retórica absolutista. A intolerância com os indígenas brasileiros, fica latente quando verificamos a forma com que estes foram descritos pela história: Preguiçosos seria a característica dada aos autóctones que preferiram a tradição de sua cultura a submissão de um novo olhar dominante, a tradição oral em detrimento da imposição religiosa, a subsistência advinda da floresta à dependência dos produtos exclusivos dos comerciantes lusos, a nudez pura às roupas pesadas impostas pelas tradições lusitanas do frio europeu, banhos diários , frutas frescas, rede ... Tudo isto foi demais para quem tinha na ganância sua motivação principal, daí preferirem o extermínio a aceitar a convivência com outro modelo cultural, ou seja: Eu sou a verdade, a força e a lei.
Já naquele começo de nossa recente história colonizada, a subserviência, a imposição, a dominação do outro se mostrava como um caminho utilizado pelas ainda muito recentes estruturas de poder que por aqui fincavam residência. Neste sentido convém ressaltar, a forma com que estes homens que aqui seriam a representação legal da corte vieram parar. Pessoas em litígio com a coroa portuguesa foram obrigadas a cumprirem a missão de povoar terras que em Portugal falava-se que era habitada, dentre outras aberrações, por dragões voadores. Pois bem, estes insatisfeitos colonizadores não teriam limites éticos para fazerem prevalecer suas vontades, aos índios a força bruta, aos insatisfeitos a intolerância, a dominação, a subserviência ou a morte. O resto, ora... O resto bem conhecemos, aliás, esta lógica prevalece até hoje. Em período posterior da nossa história viveríamos esta mesma rotina com os escravos vindos da África, a retórica absolutista, a chibata, o castigo, a morte... Porém, ao contrário dos indígenas que praticamente foram dizimados, os escravos e seus descendentes, não foram eliminados, e ainda fazem parte de nossa história, habitam o mesmo espaço que as pessoas que não tiveram a mesma origem, a mesma sorte e as mesmas oportunidades. E é aí que reside uma das razões da intolerância de nossa sociedade, ou seja, a minoria dominante abastada de descendência européia fora impelida a conviver com os que um dia discriminaram, entenderam subespécie, incapazes... A conseqüência disto foi um histórico da diminuição de oportunidades, a histórica forma de convivência pacifica escondeu a também histórica forma de discriminação, ao final da escravidão não houve reforma agrária e os recém libertos escravos não tinham terra para cultivar seus alimentos, não podam fixar moradia, ainda não havia escola pública, não puderam viver nos grandes centros urbanos, pois enfeiavam a caricata imitação francesa. Na bela Epoque, removeram morros inteiros do centro da cidade, importaram andorinhas, usavam chapéus de Panamá e terno de linho, embora a temperatura aqui beirasse os quarenta, derrubaram os casarios do centro da cidade, tudo em nome da ordem: isto lembra alguma coisa??? Então surge como possibilidade de moradia as encostas dos morros urbanos, quando a distancia para os grandes centros e o trabalho na casa desta mesma sociedade não seria muito longe, esta mesma sociedade que segregava não se incomodava com esta solução, até então submissa e subserviente. Era o inicio das favelas, porém a falta de oportunidade continuava, ainda não havia escola para todos, não havia expectativa de formação profissional, e os descendentes diretos dos negros alforriados não teriam as mesmas oportunidades profissionais que os filhos dos segmentos mais abastados. O resultado desta engenharia era presumível, uma massa sem iguais possibilidades, sedenta de consumo, uma sociedade com suas raízes legais fundamentadas para garantir a verdade do branco e uma força policial a serviço da manutenção desta trama, os negros de hoje não usam a capoeira como resistência, aliás nem sabem que estão resistindo, suas armas são mais potentes, suas mortes são em maior número, a sociedade branca, que já não é tão branca assim, continua com a mesma retórica absolutista, aos que não aceitam esta verdade: são preguiçosos, que não aceitam a verdade e portanto, tal qual no inicio de nossa história...
Eu sou a verdade a força e a Lei !!!


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