A ocorrência de casos de violência, como assaltos e estupros, não é novidade no campus Butantã da USP, assim como no entorno: os moradores da favela São Remo sofrem há tempos tanto com a criminalidade como com a brutalidade policial. Desde o bárbaro assassinato de um estudante no estacionamento da Faculdade de Economia e Administração da USP em maio, o tema da segurança na USP tornou-se uma pauta recorrente, dentro e fora da universidade. Sem promover o debate e uma consulta de forma ampla, João Grandino Rodas, reitor indicado pelo ex-governador José Serra, firmou um convênio em setembro com a Secretaria de Segurança Pública do governo estadual e a Polícia Militar para o estabelecimento da PM nos campi da universidade na capital. No dia 29/10 (quinta-feira), a PM abordou três estudantes que portavam maconha no estacionamento da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Imediatamente, houve uma comoção geral de estudantes e professores que intervieram, a PM respondeu ao protesto com balas de borracha e bombas de gás lacrimogênio. A presença da PM era uma tragédia anunciada e mostrou ao que realmente veio: agravar ainda mais a tensão e a sensação de insegurança na USP. Não questionamos a necessidade de uma política de segurança para a USP que seja debatida e deliberada de forma radicalmente democrática, mas sim que polícia não é sinônimo de mais segurança, muito pelo contrário. A polícia teve participação em praticamente todos os momentos sombrios, massacres e barbáries da história recente no Brasil e manteve intacta sua estrutura reconstruída na ditadura militar, confiar qualquer função de segurança a uma corporação com esse histórico é abrir espaço para o cerceamento de liberdades democráticas. Como resposta à repressão, estudantes ocuparam o prédio de administração da FFLCH, entidades aprovaram a construção de um ato unificado em frente à reitoria no dia 08/11 e a realização de uma audiência pública na ALESP no dia 29/11 e uma assembleia geral dos estudantes foi convocada para a última terça-feira (01/11). Mais de 1.000 pessoas compareceram à assembleia e o que poderia ser um espaço para o início de uma ampla mobilização unitária pela saída da PM da USP e outras pautas importantes, como o fim dos processos administrativos e criminais contra estudantes e funcionários, acabou causando mais divisão e confusão que culminou no encerramento da assembleia sem que se definisse um calendário de lutas. Assim como métodos de evitar o debate e deliberações na condução da assembleia por membros do DCE são injustificáveis, também não se justificam a autoproclamação e a tomada de decisões por um setor da assembleia em nome dela. O fato é que mais de 1000 estudantes compareceram à assembleia, um sinal claro de que muitos estudantes estão dispostos a se mobilizarem pela saída da PM da USP. A pergunta concreta que está colocada, e cuja resposta não é simples e imediata, é: de que forma agir? Infelizmente, não existem atalhos ou fórmulas mágicas, todo um movimento pode se desdobrar a partir de um ato espontâneo. Nenhuma forma de ação pode ser entendida como uma fórmula no sentido de ser superior e infalível em relação a outras. Em determinadas situações, uma série de protestos pode ser tão combativa e radical quanto uma ocupação. Mais do que meramente constatar limitações, devemos perceber as potencialidades de cada luta travada. Mesmo não concordando com a forma como foi conduzida, respeitamos a iniciativa dos estudantes que ocuparam a reitoria. A ocupação é um método legítimo que pode fazer avançar a luta como foi o caso de diversas ocupações, mas não é o único método ou superior em relação a outros. Avaliamos que ainda se faz necessária a construção de uma referência unitária capaz de atrair diversos estudantes de diferentes cursos e avançar concretamente no principal desafio da luta que é a saída da PM. Feita essa consideração, somos contrários a qualquer desqualificação da ocupação na mídia e nos solidarizamos contra qualquer investida da reitoria e da PM contra a ocupação. Esperamos que o ato convocado para o dia 08/11 com estudantes, funcionários e professores seja um importante passo para a necessária recomposição da unidade. Outra tarefa crucial é a articulação da luta contra a PM na USP com questões de fundo, como a criminalização da pobreza e a luta contra o proibicionismo. Mais do que denunciar a criminalização da pobreza e o processo de militarização das cidades, é fundamental o apoio e o fortalecimento de iniciativas e organizações que enfrentam essa questão, como as Mães de Maio que compareceram recentemente a um evento na USP. Sobre a luta contra o proibicionismo, não devemos deixar de enfrentar o senso comum por estar em uma posição ainda minoritária nesse debate. A guerra às drogas nada mais é do que um pretexto para a criminalização da pobreza e a militarização das cidades, principalmente nas periferias. Portanto, consideramos equivocada a postura de assumir o combate ao proibicionismo como uma luta menos importante, pois não há como desvinculá-lo da luta contra a violência policial. Por fim, concordamos que a USP realmente não é uma ilha. Ao contrário do que desejam aqueles que defendem um modelo de universidade elitista e antidemocrático, é uma universidade pública que deve estar aberta para todos. E a posição que defendemos neste caso é a mesma que defendemos para o conjunto da sociedade. Nota do coletivo Revolutas sobre os recentes acontecimentos na USP.
São Paulo, 05 de novembro de 2011 |
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