4.9.11

Trocadilho atualizado, para O Analfabeto Político de Bertold Brecht;

Quando o modelo social e político vigente oferece à maioria da população, uma única possibilidade de educação que é uma escola depauperada, quando coloca este mesmo segmento em condições de trabalho que limitam e dificultam o acesso as possibilidades intelectuais, tais como; cinemas, teatros, bibliotecas... Quando as condições de moradia associadas às dificuldades de transporte respondem a uma engenhosa produção de dificuldades começamos entender as razões que estimulam a formação de uma sociedade acrítica e despolitizada, talvez aí estejam algumas das razões da apatia coletiva que caracterizam nossa população, digo algumas, pois entendemos que o processo é muito mais amplo que a análise simples que este breve texto comporta.

Contudo, o que nos interessa, aqui neste espaço é a associação entre um modelo educacional descompromissado com a formação do ser humano, e que se associa a uma produção midiática que estimula a formação de uma sociedade consumista e individualista, convencendo esta mesma sociedade que este processo seja o desdobramento natural do ser humano.

Uma das conseqüências óbvias deste processo é a aversão as mudanças, a negação a participação nas lutas que levariam a mudança deste modelo de sociedade, no pensamento dominante desta sociedade consumista o que vale é a ilusão da inclusão, ou seja, o que interessa é o consumo e a ilusão de estar incluído a partir deste consumo. A esta sociedade convencida da naturalização deste modelo não interessa a perspectiva da mudança política, está formada a atmosfera para o analfabeto político, a ele não interessa a mudança, pois ele tem a sensação de estar incluído, ele já não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos, por não ter tido uma possibilidade intelectual em sua formação, não despertou para a criticidade, o seu entendimento em relação à estrutura social é limitado, ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas, e consequentemente estas lutas políticas podem minimizar, tencionar na direção contrária.

Esta postura é causada, em parte, pela falsa sensação que as pessoas têm de que estariam incluídas, ou o extremo contrário, que é a certeza da impossibilidade da inclusão, é a banalização das desigualdades sociais, em outras palavras,



- Se não haverá a inclusão para que a luta?



É a propagação do individualismo como prática comum a espécie humana, não importam mais os meios, o que importa é onde vou chegar. A sociedade de consumo, que transformou a administração pública em roubo, que transformou a democracia em um jogo de interesses, que publiciza através dos seus meios de comunicação que a vida é assim mesmo, também cria uma atmosfera propensa a corrupção, ao toma lá da cá, que se estende até as práticas políticas mais profundas.

A consolidação desta mesma atmosfera de poder utilizou-se da obstaculização do sucesso na escola, embora tenha permitido o acesso, não garante meios para que seus obstáculos sejam superados, dificultou o acesso a formação intelectual, tirou a criticidade da música, da cultura, outrora proibiu a capoeira, agora encareceu e emburreceu os espetáculos públicos, transformou em verdades mensagens de conformação, é a antiga metáfora do Pão & Vinho, no Brasil habilmente transformada em: Futebol, Novelas e Músicas emburrecidas, com seus representantes igualmente despolitizados. Particularmente oponho-me a imposição midiática e fico com Chico Buarque, Racionais, Seu Jorge, D2, Maria Rita, Tereza Cristina, Diogo Nogueira, Fundo de Quintal, Leandro Sapucay, Marquinhos de Oswaldo Cruz e mais alguns que abstenho de lembrança.

A ausência desta formação crítica forma uma população que na maioria das vezes é tão idiotizada, robotizada que, se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

É uma geração onde se notabiliza o grande contingente de Analfabetos políticos que não sabem e não conseguem perceber a imbecilidade gerada por sua ignorância política, que não entendem que daí advém à prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto, o lacaio explorador do povo.

Ironicamente este mesmo Analfabeto Político, reage às mudanças e aos atores que promovem estas mudanças, pois a dificuldades em percebê-las, diante de todo este contexto, é maior do que o poder de convencimento que os que lutam tentam infringir sobre os que não lutam, ironicamente estes mesmos segmentos, em sua grande maioria, explorados, empobrecidos, segregados tendem a solidarizarem-se, colocarem-se ao lado dos representantes dos segmentos mais abastados que justamente efetivam esta exploração. Aí reside a maior das contradições que é convencer aos explorados que estão convencidos de sua inclusão, que seria preciso unir-se para enfrentar um modelo explorador que agudiza os mecanismos de exploração, que seria esta a melhor maneira de construir uma sociedade com um pouco mais de justiça e igualdade.







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