19.8.11

Sobre os Distúrbios na Inglaterra, Europa e Reino Unido.


O homem indignado, a inteligência onde se esperava o óbvio, a indelicadeza que denuncia a intenção da mídia oficial sobre os Distúrbios na Inglaterra, Europa e Reino Unido.

Uma reportagem feita ao vivo, pela rede estatal britânica BBC tem tomado as redes sociais e se espalhado como uma febre pelos e-mails e redes sociais em vários países. O vídeo mostra uma apresentadora entrevistando um escritor negro, imigrante da Índia (ex-colônia britânica) e morador de um dos bairros pobres em que os protestos foram mais violentos. Darcus Howe, que tem um filho e um neto, não defende os conflitos que a mídia oficial insiste em chamar de ‘’saques e os atos de violência cometidos por alguns jovens’’ . Ao contrário, de forma extremamente sensata Howe as entende enquanto uma manifestação digna de quem tem seus direitos violados constantemente e, portanto, não acredita que estivessem totalmente errados em sua manifestação popular.

Reafirmando seu posicionamento conservador e imparcial A BBC pediu desculpas àqueles(contrários as manifestações) e que se sentiram ofendidos pela reportagem, como se um determinado ponto de vista ofendesse as pessoas e não devesse ser colocada publicamente. Exceto se este fosse o posicionamento defendido pela emissora.

Contudo, as pessoas já haviam se apropriado deste brilhante vídeo e o multiplicado o discurso de Howe, que nos faz crer que por mais que os mecanismos de controle do capital se aprofundem, eles jamais irão deter a reação inteligente das pessoas...

A fala de Howe é impactante, em dado momento ele afirma;

“Tudo o que sei, ouvindo o meu filho, e o meu neto, é que alguma coisa muito séria estava para acontecer neste país. Nossos líderes políticos não tinham ideia. A Polícia não tinha ideia. E se ouvíssemos os jovens negros e brancos – mas não os ouvimos -, saberíamos que algo estava para acontecer neste país.”

Nesse momento, a repórter o interrompe e pergunta se ele não condena os atos de violência em seu bairro.

Então com uma negação a sugestão da pergunta, ele responde;


“O que me preocupa acima de tudo é que havia um jovem chamado Mark Dogan, que tinha irmãos, e a poucos metros de sua casa, a Polícia simplesmente atirou em sua cabeça”,

Tentando demasiadamente conduzir a resposta do entrevistado a repórter insiste perguntando se uma possível discriminação contra negros é motivo para “sair causando a desordem que vimos nos últimos dias”.

Então ainda de forma surpreendente e profundamente intelectualizada, ele volta a sua brilhante explanação,

“Eu não chamo isso de desordem. Chamo isso de insurreição do povo. Está acontecendo na Síria, está acontecendo em Clapton, está acontecendo em Liverpool. E essa é a natureza do momento histórico em que vivemos.”

A entrevista toma um rumo surpreendente quando a repórter sugere que o senhor Howe faria parte dos grupos arruaceiros, o que causa completa indignação por parte dele, que pede “mais respeito com um velho negro imigrante da Índia”.

Importante observar que a posição de Howe mostra uma lógica dos distúrbios em Londres, que não fora mencionada pelos órgãos de imprensa que cobriam o evento.

Nota-se claramente que em nenhum momento o entrevistado defende a violência, contudo aborda uma perspectiva para um debate que parece esquecido na Inglaterra: o da discriminação contra imigrantes, e contra segmentos específicos de algumas classes sociais.

Pode-se afirmar que houve uma intenção em abafar a entrevista que obviamente saiu do controle, ficou fora do combinado principalmente porque mostra a tentativa da repórter em abafar um caso que vai contra o que é defendido pelo governo. Além disso, causou indignação pelo fato de que, durante a última semana, o governo inglês ameaçou derrubar as redes sociais do país e fechou acordos com a Black Berry para controlar seu popular serviço de mensagem, medida para tentar conter os manifestantes – e uma medida que, quando adotada no Egito, Líbia e Síria, argumentaram usuários no You tube, foi rechaçada pelo próprio governo inglês.

Agora é divulgar ao máximo esta entrevista, aguçar o debate, estimular a reflexão crítica e atuar no sentido de construir uma contra-informação que pense na denúncia deste estado de injustiças e aponte uma sociedade mais igualitária.

O Vídeo:





Um comentário:

  1. ‎"Há algo mais forte do que a ação constante das leis em uma direção: a atuação constante das ações humanas em sentido contrário".

    Muito bem colocado pelo Sr. Howe, esse movimento é uma insurreição. O consumismo desenfreado dá as diretrizes das relações entre indivíduos há anos, mas atualmente como previsto pelo velho Marx, as condições estão cada vez mais próximas e essas manifestações serão cada vez mais frequentes! É preciso entender que o Estado nada mais é que o coletivo de nossas representações, não pode ser exteriorizado, pelo contrário, devemos nos libertar da realidade contemplativa, compreendendo que o Estado é concreto e composto por homens (em espécie)e desta forma pode ter suas estruturas abaladas, pode ser erguido como pode também ser derrubado! Essa manifestações só confirmam a necessidade iminente de mudança.
    A mídia definitivamente está em uma cruzada para deter esse avanço e não mede esforços para criminalizar tais manifestações, sempre imprimindo nas mentes a ideia de caos e distúrbio, com isso querem apenas manter as coisas como estão. A cada dia o fosso entre as classes se alarga, as oportunidades da democracia poucos conhecem e isso deve mudar!

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