30.4.11

Jean Piaget e a contribuição de sua obra na prática Pedagógica;

Jean Piaget - O biólogo que colocou a aprendizagem no microscópio

O cientista suíço revolucionou o modo de encarar a educação de crianças ao mostrar que elas não pensam como os adultos e constroem o próprio aprendizado

Jean Piaget (1896-1980) foi o nome mais influente no campo da educação durante a segunda metade do século 20, a ponto de quase se tornar sinônimo de pedagogia. Não existe, entretanto, um método Piaget, como ele próprio gostava de frisar. Ele nunca atuou como pedagogo. Antes de mais nada, Piaget foi biólogo e dedicou a vida a submeter à observação científica rigorosa o processo de aquisição de conhecimento pelo ser humano, particularmente a criança.
Do estudo das concepções infantis de tempo, espaço, causalidade física, movimento e velocidade, Piaget criou um campo de investigação que denominou epistemologia genética - isto é, uma teoria do conhecimento centrada no desenvolvimento natural da criança. Segundo ele, o pensamento infantil passa por quatro estágios, desde o nascimento até o início da adolescência, quando a capacidade plena de raciocínio é atingida.
"A grande contribuição de Piaget foi estudar o raciocínio lógico-matemático, que é fundamental na escola mas não pode ser ensinado, dependendo de uma estrutura de conhecimento da criança", diz Lino de Macedo, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.
As descobertas de Piaget tiveram grande impacto na pedagogia, mas, de certa forma, demonstraram que a transmissão de conhecimentos é uma possibilidade limitada. Por um lado, não se pode fazer uma criança aprender o que ela ainda não tem condições de absorver. Por outro, mesmo tendo essas condições, não vai se interessar a não ser por conteúdos que lhe façam falta em termos cognitivos.
Isso porque, para o cientista suíço, o conhecimento se dá por descobertas que a própria criança faz - um mecanismo que outros pensadores antes dele já haviam intuído, mas que ele submeteu à comprovação na prática. Vem de Piaget a ideia de que o aprendizado é construído pelo aluno e é sua teoria que inaugura a corrente construtivista.
Educar, para Piaget, é "provocar a atividade" - isto é, estimular a procura do conhecimento. "O professor não deve pensar no que a criança é, mas no que ela pode se tornar", diz Lino de Macedo.
Assimilação e acomodação;
Com Piaget, ficou claro que as crianças não raciocinam como os adultos e apenas gradualmente se inserem nas regras, valores e símbolos da maturidade psicológica. Essa inserção se dá mediante dois mecanismos: assimilação e acomodação.
Assimilação consiste em incorporar objetos do mundo exterior a esquemas mentais preexistentes. Por exemplo: a criança que tem a ideia mental de uma ave como animal voador, com penas e asas, ao observar um avestruz vai tentar assimilá-lo a um esquema que não corresponde totalmente ao conhecido. Já a acomodação se refere a modificações dos sistemas de assimilação por influência do mundo externo. Assim, depois de aprender que um avestruz não voa, a criança vai adaptar seu conceito "geral" de ave para incluir as que não voam.

Brincar:

Quando a criança brinca, explicava Piaget, elas assimilam continuamente objetos ou atividades predeterminadas , ignorando os atributos que não se encaixam naquela atividade. Por exemplo, quando as crianças sentam numa cadeira e dizem '' Upa, cavalinho'' , não estão dando atenção particular aos atributos da cadeira que não lembram um cavalo.
Esse tipo de comportamento ao brincar envolve pouca mudança, portanto, há pouca acomodação - o que não significa negar sua importância no desenvolvimento infantil. Na verdade, o que Piaget faz é exatamente o oposto: enfatiza repetidamente que, embora as crianças pequenas se envolvam nas atividades (como brincar de ''cavalo''), elas o fazem movidas apenas pelo seu interesse pela atividade, e o efeito disto é estabilizar o esquema (a atividade) para que ele possa ficar mais rapidamente disponível e, por consequência, fixar um estágio para a aprendizagem seguinte.
Estágios de desenvolvimento
Um conceito essencial da epistemologia genética é o egocentrismo, que explica o caráter mágico e pré-lógico do raciocínio infantil. A maturação do pensamento rumo ao domínio da lógica consiste num abandono gradual do egocentrismo. Com isso se adquire a noção de responsabilidade individual, indispensável para a autonomia moral da criança.
Piaget acreditava que o desenvolvimento infantil progride ao longo de uma série de estágios, cada um dos quais caracterizado pelo desenvolvimento de novas capacidades. Mais precisamente, cada estágio consiste em um nível mais avançado de adaptação. Ele descreve quatro estágios mais importantes e vários subestágios ao longo dos quais as crianças progridem no seu desenvolvimento.  
Oportuno destacar a importância, por parte do professor, destas etapas de desenvolvimento. Em função da formulação das atividades pedagógicas.  A partir da descrição abaixo de cada uma destas etapas, descreverei algumas destas atividades que navegam em um terreno limítrofe destas percepções.

O primeiro é o estágio sensório-motor, que vai até os 2 anos. Nessa fase, as crianças adquirem a capacidade de administrar seus reflexos básicos para que gerem ações prazerosas ou vantajosas. É um período anterior à linguagem, no qual o bebê desenvolve a percepção de si mesmo e dos objetos a sua volta. 
  • Atividades que potencializem o desenvolvimento das percepções motoras, não adiantá-las, potencializá-las. Cor, audição, musicalidade, reflexo... São exemplos destas atividades que devem ser valorizadas.

O estágio pré-operacional vai dos 2 aos 7 anos e se caracteriza pelo surgimento da capacidade de dominar a linguagem e a representação do mundo por meio de símbolos. A criança continua egocêntrica e ainda não é capaz, moralmente, de se colocar no lugar de outra pessoa.

·         Atividades que ajam sobre este processo em curso, ou seja, mais uma vez trata-se de potencializar e não adiantar. Teatro para estimular a fala, desenhos, exposições dos trabalhos, musicas, corais, instrumentos musicais...

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O estágio das operações concretas, dos 7 aos 11 ou 12 anos, tem como marca a aquisição da noção de reversibilidade das ações. Surge a lógica nos processos mentais e a habilidade de discriminar os objetos por similaridades e diferenças. A criança já pode dominar conceitos de tempo e número.

  • Aqui a criança sabe que os brinquedos ficam naquele cesto, que as meias ficam na quarta gaveta,  já possuem noção de volume, peso, quantidade, ou seja, as operações concretas. Já domina seu condicionamento motor, sua força de carregar um determinado objeto, já pode calcular a altura que pode pular, a velocidade para alcançar um determinado objeto em movimento... Portanto, as atividades pedagógicas devem respeitar esta capacidade e compreender este limite. Não é espaço para grandes abstrações, do tipo: movimento de rotação e translação da terra,  contudo nada impede que este tipo de exercício seja apresentado. O cuidado aqui é não querer que haja uma compreensão imediata e uníssona, por parte de um grupo heterogêneo de crianças.  
Por volta dos 12 anos começa o estágio das operações formais. Essa fase marca a entrada na idade adulta, em termos cognitivos. O adolescente passa a ter o domínio do pensamento lógico e dedutivo, o que o habilita à experimentação mental. Isso implica, entre outras coisas, relacionar conceitos abstratos e raciocinar sobre hipóteses.

  • Capacidades dedutivas sobre a tabuada, percepção do movimento de rotação e translação, planejamento calcado em tempos e prazos maiores, viagens, formação prolongada, responsabilização do não investimento em suas tarefas...
Para pensar
Os críticos de Piaget costumam dizer que ele deu importância excessiva aos processos individuais e internos de aquisição do aprendizado. Os que afirmam isso em geral contrapõem a obra piagetiana à do pensador bielo-russo Lev Vygotsky (1896-1934). Para ele, como para Piaget, o aprendizado se dá por interação entre estruturas internas e contextos externos. A diferença é que, segundo Vygotsky, esse aprendizado depende fundamentalmente da influência ativa do meio social, que Piaget tendia a considerar apenas uma "interferência" na construção do conhecimento. "É preciso lembrar que Piaget queria abordar o conhecimento do ponto de vista de qualquer criança", diz Lino de Macedo em defesa do cientista suíço. Pela sua experiência em sala de aula, que peso o meio social tem nos processos propriamente cognitivos das crianças? Como você pode influir nisso?
Ajudando o desenvolvimento do aluno
A obra de Piaget leva à conclusão de que o trabalho de educar crianças não se refere tanto à transmissão de conteúdos quanto a favorecer a atividade mental do aluno. Conhecer sua obra, portanto, pode ajudar o professor a tornar seu trabalho mais eficiente. Algumas escolas planejam as suas atividades de acordo com os estágios do desenvolvimento cognitivo. Nas classes de Educação Infantil com crianças entre 2 e 3 anos, por exemplo, não é difícil perceber que elas estão em plena descoberta da representação. Começam a brincar de ser outra pessoa, com imitação das atividades vistas em casa e dos personagens das histórias. A escola fará bem em dar vazão a isso promovendo uma ampliação do repertório de referências

Texto produzido por: Prof. Antonio Futuro

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Referências:
LEFRANÇOIS, Guy R.Teorias da aprendizagem. 5. ed. São Paulo: Cengage Learning, 2009.479 p.13978-85-221-0622-3.
Matéria de Márcio Ferrari na revista Nova Escola.(novaescola@atleitor.com.br)




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