20.11.10

Que escola que queremos? Pra quem queremos? Pra que queremos?

O IDEB e algumas possíveis, ou melhor, prováveis distorções...


Fundamental entender e valorizar a importância de todo e qualquer acompanhamento do modelo educacional em curso em um determinado país, bem como, a partir dos resultados apresentados e da percepção das metodologias utilizadas, produzir novas sugestões e apontar as distorções que possam ter ocorrido no referido processo. Oportuno destacar que toda forma de análise de dados traz consigo uma subjetividade implícita. Todo levantamento de dados busca, em última análise, confirmar uma hipótese.
Gosto muito do exemplo que fala que uma pessoa dona de um frango, ao comê-lo dá um pedaço a outra pessoa, embora a primeira tenha comido o frango praticamente sozinha, do ponto de vista da análise estatística, não seria errado afirmar que duas pessoas comeram um frango, ainda que fique evidente que uma pessoa praticamente o tenha comido sozinha. A elucidação desta situação só ficaria evidente se interessasse as pessoas que fizeram à estatística, saber: Quem comeu, como comeu, quando comeu, a busca desta resposta demandaria novas pesquisas, novos levantamentos, novas estatísticas, mais gráficos... Ufa!!! Não sei se realmente as pessoas buscariam a exatidão da resposta quando da deglutição do frango, talvez a elas bastasse à informação de que duas pessoas comeram um frango, o que sugere que cada uma comeu cinqüenta por cento dele!!!
Contudo não se trata de negar a veracidade do estudo apresentado, ao contrário, em respeitando-o, poder-se-á, comprovar que sua execução tenha por motivação a leitura dos resultados e a provável intervenção do Estado na pronta superação dos problemas apresentados.
Porém, é inegável que a busca pelos resultados, ou melhor, pelos números pode suscitar uma tendência em se perceber a Educação por uma ótica meramente cartesiana. E este talvez seja o maior desafio durante a sua aplicabilidade, ou seja, a busca pelo melhor resultado a qualquer custo. O IDEB é calculado com base na taxa de rendimento escolar (aprovação e evasão) e no desempenho dos alunos no SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) e na Prova Brasil. A busca por uma melhor classificação de uma instituição passa a ser o alvo principal das escolas no Brasil, quando deveria ser a construção do conhecimento o seu objetivo e não a busca dos números. Tudo em função de uma analogia classificatória do conhecimento, ou seja, a escola seria melhor, em função de ter uma maior ou menor nota no referido teste, associa-se a isto um maior ou menor índice de repetências e desistências que esta escola registrar. Toda a subjetividade implícita no processo pedagógico perde espaço para os números frios e imparciais, as ‘’melhores’’ escolas são as que apresentam os ‘’melhores’’ números. Pois bem, a lógica é cartesiana, numérica, classificatória, em outras palavras é o salve-se quem puder!!!
Se já fazíamos uma crítica à tendência domesticadora, controladora, docilizadora dos corpos, inibidora da criatividade, em uma escola que não estava focada na formação da cidadania, agora isto ganha ares de certeza absoluta. A ordem agora é crescer no IDEB, com o tempo vão acabar com as aulas de Música, Educação Física, Meio Ambiente.

                                                            É por isso que se mandam as crianças à escola:
nãtanto  para    que aprendam alguma coisa,
mas para que se habituem a estar calmas e
 sentadas e a cumprir escrupulosamente o que
se lhes ordena, de modo que depois não pensem
mesmo que têm de pôr em prática as suas idéias.
Immanuel Kant

O cenário educacional brasileiro está terrivelmente caótico, porém emergem por todos os cantos iniciativas pedagógicas que ajudam a desenhar uma escola; inclusiva, paciente, que ensina; que se pretende mais afetiva... Mas nada disto importa a atenção agora está voltada para os números. Fica a pergunta: Como identificar uma escola que tenha tido um bom rendimento em relação ao momento anterior? Ou seja, que tenha tido uma boa caminhada no que concerne ao desenvolvimento cognitivo de suas alunas e de seus alunos. Portanto, neste caso a qualidade de uma escola não estaria necessariamente atrelada ao número alcançado, e sim, ao caminho percorrido!!!
Aí reside o desafio: Como avaliar a estrada construída? De onde saímos e aonde chegamos? Quanto ainda temos à caminhar? 
Pois bem, por ora o município do Rio de Janeiro vive a ressaca do anuncio deste resultado em decorrência do ano de 2009, e é exatamente aí que atenho minha critica, pois as variáveis que interferem na produção destes resultados não são avaliadas.
Assim como a leitura de que os números pertinentes aos anos iniciais da trajetória escolar no município do Rio de Janeiro não foram inferiores ao da grande maioria do resto do país. O fato que leva a esta ressaca foi à comprovação de que nos três últimos anos do ensino fundamental, ficamos em último lugar no país.
Contudo, temos que avaliar as variáveis implicitas neste processo.
Se uma Escola, sua diretora e sua professora atuam em uma área de forte conflito urbano, com muitas interferências de ordem, social e familiar, em que a criança tenha um acentuado afastamento desta ambiência intelectual, que é oferecida pela escola, e potencializada pela família, evidente que aí haja uma possibilidade de ‘’resultado’’ inferior aos espaços que apresentem uma ambiência social mais colaboradora, menos conflituosa. Contudo, esta situação não é considerada por ocasião da ‘’premiação dos melhores’’, ou seja, as ‘’melhores’’ escolas, as que obtiveram os melhores resultados serão premiadas.
Trazendo isto pro campo prático:
Imagine uma determinada escola que funcione em uma área de forte conflito, relação sócio-econômic fortemente desfavorecida, em que as crianças tenham uma acentuada ausência dos vínculos familiares, participação das crianças com a drogadição. Ao compararmos esta realidade citada com uma escola que esteja fisicamente situada em uma área de total ausência destas características, estas gritantes características, que obviamente interfeririam na produção destas duas escolas, não seriam consideradas. Em outras palavras, a Escola, com sua diretora e suas professoras que atuam no olho do furacão, ao serem comparadas com a Escola, sua diretora e suas professoras que, ao contrário, atuam em uma escola situada em um ambiente menos tenso, Ao serem comparadas estas questões não serão consideradas.
Sobre o ENEM;
                                 Criado em 1998 como uma prova individual e não obrigatória, seu principal objetivo é avaliar os conhecimentos adquiridos pelo aluno ao terminar a escolaridade básica, assim como a qualidade do ensino das redes pública e privada. "Por ser um exame voluntário, não podemos pegar um grupo de indivíduos e dizer que ele representa todo o Ensino Médio do país. Mas mudanças estão sendo realizadas para que seja possível saber com mais precisão se o Ensino Médio
 tem melhorado ou piorado",
                                                                        Heliton Ribeiro Tavares, diretor de avaliação da Educação Básica do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).


Observem como a conjunção destas questões abre um precedente perigosíssimo, os profissionais que deveriam ser premiados pela coragem, determinação, superação dos desafios, não tem suas práticas detectadas, pela atual formatação de avaliação das escolas...
Creio que deveríamos penasr em algumas novas possibilidades que tivessem como intuito avaliar sim, mas em outra direção:
• Seria preciso que o município desenvolvesse alguma forma de identificar estes atores;
• Não se trata de sugerir a interrupção deste processo, ao contrário, oportuno continuar com a avaliação do IDEB, porém seria cabível instituir formas de valorar a participação destes profissionais que atuam nas áreas de intenso conflito urbano.
• A Avaliação classificatória responde a um anseio da sociedade que deseja, como forma de se inserir neste modo capitalista, que seus(suas) filhos(as) acessem os primeiros postos desta disputa sobre-humana. Então, respondendo de forma equivocada a este anseio, a educação passa a responder a esta demanda, ou seja; O objetivo da educação é formar gênios que ao disputarem seus cargos cheguem na frente dos outros.
• Ao contrário a Educação deveria repensar suas perguntas; Qual foi a escola que reciclou mais lixo? Fez mais campanhas contra a Violência? Estimulou a discussão sobre os métodos contraceptivos e a maternidade não planejada? , denunciou o Racismo, junto à comunidade? Isto revela qual o objetivo desta escola!!!
• Não se trata de negar as crianças dos setores menos favorecidos o direito de aprender para competir, contudo a Educação não pode prescindir da idéia de pensar na formação do cidadão.
Lembro que este artigo ainda está em fase de elaboração... Porém, o desejo imperioso de falar sobre este tema me fez colocá-lo aqui, ainda que na condição de inacabado...




Nenhum comentário:

Postar um comentário