24.10.10

O fim dos vestibulares, por Rubem Alves...

O brilhante texto foi extraído do site do prof. Rubem Alves, como tudo que ele produz trata-se de uma bela discussão de tema tão relevante. Posteriormente voltarei, de forma mais aprofundada, a debater esta proposta. Particularmente não vejo como hilária a proposta de sorteio nos vestibulares, ao contrário, creio que seja uma forma extremamente  democrática de discutirmos o acesso ao ensino superior. Quanto à forma de estruturar este processo, creio que devamos nos debruçar em inúmeros debates, reuniões, encontros, seminários que se propusessem ouvir o maior número de propostas, como forma de minimizar as possíveis injustiças que pudessem ocorrer. Contudo, creio que por mais que estas injustiças viessem a ocorrer, ainda assim, estas seriam em menor número que a atual formatação do processo seletivo para o acesso a esta etapa de nossa Educação. A idéia aqui não é aprofundar o debate sobre esta narrativa, e sim, trazer o belo trabalho de tão importante educador. Neste sentido, vamos nos deliciar com esta obra e como já fora dito, posteriormente nos aprofundamos ...
O Texto:  
(...) É o caso da minha velha proposta para a solução da monstruosidade dos vestibulares, a meu ver uma das maiores pragas da educação brasileira. Os vestibulares são escorpiões com ferrões na cabeça e no rabo. Na cabeça, o ferrão pica para frente, aqueles que estão tentando entrar na universidade. No rabo, ele pica para trás: as crianças e os adolescentes: escolas boas são as que os preparam os vestibulares. E assim, os ditos exames, que são elaborados apenas como guilhotina para degolar os menos espertos que querem entrar, se estabelecem como camisas-de-força para o pensamento dos que estão apenas começando: são elevados à condição de norma mal-dita para o ensino de primeiro e segundo graus. A maior importância dos vestibulares está precisamente nisso: as deformações que eles impõem sobre a educação que os antecede.
Os vestibulares podem ser melhorados. Qualquer melhoria, entretanto, não compensa os estragos que fazem. Ao invés de serem melhorados, proponho que sejam abolidos. Como é que podem ser abolidos? Fala-se em adotar o modelo americano: a seleção se faria pelos currículos escolares. Essa solução é muito pior que os atuais vestibulares. Ela criaria uma “liga” de escolas de elite, caminho indispensável para a entrada nas universidades, tal como acontece nos USA, aumentando assim as vantagens dos ricos sobre os pobres.
Fala então o bufão, lembrando os leitores de que, por absurda que possa parecer, a sua proposta é coisa séria.
Proponho que o vestibular seja substituído por um sorteio. Todos os que concluirem o segundo grau poderão entrar no sorteio. Vantagens:
1. Os pobres poderiam ter esperanças de entrar na universidade. Nenhuma outra solução é tão democrática quanto esta.
2. Os cursinhos seriam automaticamente fechados. O dinheiro que neles gastam as classes média e rica seriam economizados.
3. O ensino do primeiro e do segundo graus ficaria livre da camisa-de-força que os vestibulares lhes impõe. As propostas educacionais teriam de ser avaliadas, então, pelo seu valor cultural, como educação, e não por sua capacidade para ensinar técnicas para passar nos vestibulares.
4. As classes médias e ricas, liberadas dos gastos com os cursinhos, e diante do fato de que seus filhos não são sorteados, teriam à sua disposição recursos financeiro substanciais que poderiam ser investidos na criação de excelentes universidades particulares, à semelhança do que ocorre nos Estados Unidos. Os pobres teriam mais chances de acesso à educação univeristária pública gratuita e os ricos poderiam criar suas próprias instituições de ensino superior, sem que o governo tivesse de lançar mão de seus recursos.
Objeção: o sorteio permitiria o acesso às universidades de qualquer estudante, mesmo aqueles que estudaram nas piores escolas e tiraram as piores notas, contribuindo assim para piorar o nível já baixíssimo da nossa educação.
Contestação: esse perigo seria evitado por um exame nacional, ao final do segundo grau, que teria por objetivo determinar aqueles que cumpriram as exigências mínimas de conhecimento estabelecidas pela lei. Um exame não classificatório, que teria apenas duas notas: aprovado, reprovado. Os aprovados todos poderiam entrar no sorteio. Esse exame, por sua vez, se constituiria num instrumento para que o Ministério da Educação avaliasse o desempenho das escolas. A proposta tem defeitos e injustiças - infinitamente menores que aqueles dos vestibulares. Acho que o palhaço merece, pelo menos, ser ouvido e ser levado em consideração...

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