28.9.10

Sobre Educação de Jovens e Adultos

Em entrevista publicada no site da Campanha Nacional pelo Direito á Educação, o ministro da Educação faz uma breve abordagem sobre o perfil do Idoso Analfabeto.
Na referida entrevista o ministro comenta o fato de a maioria dos analfabetos brasileiros serem idosos, pardos e viverem no Nordeste.
’A maioria dos analfabetos no Brasil são pardos (58,8% do total), idosos (42,6%) e vivem no Nordeste (52%), segundo a Síntese de Indicadores Sociais divulgada nesta sexta-feira (17) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)’.
Na oportunidade ainda comenta que este dado seria ‘’uma herança de 20,30, 40 anos’’.
Certamente que todos concordamos com as ponderações do Sr. Ministro, contudo poderíamos adicionar as suas observações que esta herança, como ele mesmo mencionou, seria fruto de uma relação de desigualdade presente nos quinhentos anos de nossa história e sobretudo na educação, no interior da escola,
             Carraher e Schliemann (1982) afirmam que a seletividade produzida pelo fracasso escolar endossa o papel da escola como reprodutora do sistema social. O processo seletivo das classes populares está ligado ao fato de o currículo escolar refletir os interesses das classes dominantes, representar as experiências e a cultura das classes dominantes, utilizar o "código" elaborado da classe dominante e incorporar pressupostos ligados às práticas e expectativas das classes dominantes.
Pois bem, quando o ministro fala que o sistema educacional brasileiro ‘’estaria dando conta do recado’’, talvez coubesse o complemento de que este problema não será superado apenas do ponto de vista da reestruturação do sistema educacional. Enquanto entendermos que trata-se apenas de uma perspectiva de solução do ponto de vista de uma estruturação pedagógica eficiente, estaremos navegando em um terreno fértil de ilações. Assim o fosse, o MOBRAL teria resolvido o problema. Em outra parte da entrevista o próprio ministro fala que ‘’Trata-se de uma população difícil de atingir por programas de alfabetização’’.
Ou seja, a perspectiva de solução deste problema sugere a reordenação de todo um modelo social.
                             
                    - Estas pessoas não foram excluídas por que eram analfabetas, elas já tinham sido excluídas historicamente, ao longo dos nossos quinhentos anos de exclusão sócio – econômica, então tornaram-se analfabetas.

Assim como; Bourdieu e Passeron (1975) identificam a escola como aparelho ideológico do Estado, difusora e semeadora da ideologia que mantém o status qüo e ainda como promotora da manutenção do sistema de classes. O analfabetismo deve ser encarado como conseqüência desta desigualdade historicamente constituída, não por acaso há uma predominância dos segmentos sociais, étnicos e de gênero, que historicamente foram e continuam sendo excluídos em nossa sociedade. Urge a necessidade de reestruturar o modelo pedagógico, que também incorpora características excludentes, sabemos que a atual distribuição social que temos, na maioria das vezes leva a pessoa a abrir mão de seu crescimento intelectual, de suas relações sociais em detrimento de sua sobrevivência. Seria inocente demais imaginar que estas pessoas tornaram-se analfabetas em decorrência de um modelo pedagógico mal estruturado, de certo, que precisamos repensar nossa prática pedagógica. Porém não podemos cair na armadilha do capital que sugere a culpablização dos problemas, aqui o problema é a Educação, como conseqüência de uma possível inoperância do sujeito, quando deveria percebê-lo como conseqüência da desigualdade que é o próprio sistema capitlista brasileiro.







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