9.4.10

Ainda sobre as cartilhas

Em relação as cartilhas que vem sendo aplicadas na educação municipal do Rio de Janeiro... Vimos ouvindo regularmente alguns absurdos no tocante ao conteúdo destas. Infelizmente sou obrigado a admitir que alguns destes absurdos, que imaginei fossem boatos, vieram a se confirmar, porém também tenho ouvido algumas pérolas que não se confirmaram, ao menos por enquanto. Contudo, diante das aberrações que verifiquei não ouso duvidar que algum destes absurdos venham a se confirmar. Através de contatos diários, feitos junto à minhas alunas, algumas professoras da rede municipal, venho tentando analisar a aplicabilidade deste material, como também as críticas que os professores, via de regra, tecem em relação há um possível equívoco da secretária de Educação.
Pois bem, ao me apropriar de alguns destes materiais venho produzindo análises sobre o referido episódio. A primeira destas reflexões é no tocante a não valorização de uma prática alfabetizadora mais abrangente, centrada na perspectiva humanizadora, que tende a despertar a criticidade, o desenvolvimento cultural e a formação holística do ser humano e a sua consequente inserção na luta pela transformação desta realidade que lhe foi imposta, esta uma ótica conhecida por nós e muito badalada ultimamente com a denominação de LETRAMENTO, ainda que aí naveguem discordâncias quanto a empregabilidade deste termo, o que sugere uma diferenciação da idéia de alfabetização trabalhada por Paulo Freire.

A palavra alfabetização tem um peso, uma tradição, no contexto do paradigma da educação o popular que é a maior contribuição da América Latina à história universal das idéias pedagógicas. O uso do termo “letramento” como alfabetização é uma forma de contrapor-se ideologicamente à essa tradição, reduzindo à alfabetização à “lecto- escritura”, como se diz em espanhol. A alfabetização não pode ser reduzida a uma tecnologia ou técnica de leitura e de escrita. Ser uma pessoa letrada não significa ser alfabetizada, no sentido que Paulo Freire dava ao termo. O termo “alfabetização” não perdeu sua força significativa diante da emergência dos novos usos da língua escrita, como argumentam alguns. Nem o termo inglês literacy (letramento) traduz melhor as práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita. Já estão adotando o termo “letramento digital”. Daqui a pouco, deveremos nos referir Ás alfabetizadoras como letramentadoras? Além do equívoco conceitual, sonoramente seria uma lástima! Emília Ferreiro tem razão. É um retrocesso.



Moacir Gadotti, 63, É professor titular da Universidade de São Paulo





Contudo, letramento ou alfabetização em Paulo freire, o fato é que esta perspectiva vinha navegando em terreno comum de aceitação pela Educação brasileira e notadamente no município do Rio de Janeiro, onde os professores foram capacitados durante um longo período para implementarem o sistema dos ciclos em Educação.
Bem sabemos que o capitalismo brasileiro, e sempre gosto de ressaltar o “ brasileiro” ocorre de maneira arcaica, retrograda, conservadora, colonial, escravista, não que no resto do mundo seja melhor, é que aqui ele é pior!!! Portanto, seus representantes acabam por desencadear práticas que correspondam aos anseios de seus pares, logo uma prática educacional que possa sugerir uma direção diametralmente inversa a produção de seres que bestializados, que não sejam críticos, não será bem recebida pelos representantes deste sistema capitalista escravocrata, ainda que saibamos que a escola não é o único locus de formação desta críticidade, porém não podemos prescindir de sua importância neste processo. Assim como, também cabe destacar que não há nenhuma afirmação mais contundente no sentido de que esta fosse uma meta da prefeitura que antecedeu a atual, porém é razoável admitir que havia um cenário mais favorável no sentido de propor, ainda que muito timidamente, uma inclinação nesta direção.
Portanto, percebam que em se tratando desta prefeitura não há nenhum equívoco na condução de um sistema alfabetizador calcado no sistema fonético silábico, que tenha como expectativa formar aceleradamente leitores que sejam acríticos e de forma oportuna ao sistema, bons trabalhadores...
Neste sentido, percebam que uma alfabetização acelerada, acrítica que estimule a individualidade e não pense na formação humana será muito bem vinda pelos representantes deste sistema escravocrata.
Entenderam? Não?
Eu explico!!!
Para tanto, vou lançar mão de um texto de Elvira Lima, que creio possa esclarecer meu ponto de vista,

Por trás da elaboração do currículo, está a concepção de ser humano em desenvolvimento. Dependendo da organização das ações pedagógicas, a escola pode falsear este desenvolvimento, impedi-lo, conviver com ele ou, deliberadamente, promovê-lo. Podemos, então, dizer que a definição de currículo está atrelada à concepção de cidadão e de indivíduo sócio-cultural que é subjacente à política educacional. Não há, portanto, currículo ingênuo: ele sempre implica em uma opção e uma definição do que seria o processo de humanização.

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