19.12.09

Pra não dizer que não falei do Papai Noel.


Dias destes ao conversar, em sala de aula, sobre práticas pedagógicas me peguei analisando a relação que estas práticas podem ter com a manutenção, ou com o enfrentamento do modelo social que está colocado. Lembrei aos alunos que eles não podem prescindir deste importante papel da Educação, ou seja, confirmar ou confrontar a realidade colocada para nossa infância e juventude. A conversa surge em função de estarmos analisando algumas práticas pedagógicas que de forma irrefletida acabavam por confirmar uma lógica capitalista excludente que encontra ressonância nesta importante micro célula de construção do poder que é a escola. Convém destacar, que o pano de fundo para esta conversa foi a analise Foucaultiana que aponta que as técnicas disciplinares: Espaço, Tempo, Vigilância e Saber - mormente utilizadas nas escolas- na verdade transformam-se em uma garantia para o adestramento e para a subordinação, geralmente acrescidas de outras tantas técnicas sutis de aprisionamento dos corpos, quando a escola então, organiza-se de forma a reproduzir a submissão e produzir os corpos dóceis que culmina na subordinação social, na dominação, na alienação e aceitação. E é exatamente neste ponto que residia o tema motivador da aula, ou seja: ALIENAÇÃO E CONSUMO, quando então eu apontava que não há como refutar a seguinte idéia... Uma escola não pode admitir que jovens pensem e vejam as informações sem que possam refletir sobre a forma e a intencionalidade com que esta informação foi gerada, a prática pedagógica pode dimensionar ou relativizar estas informações.
Neste final de ano, o natal, os presentes, os sacrifícios e a dependência do cumprimento destas exigências tornam este período sui generis para darmos uma relativizada nestas questões.
Contudo, faz-se necessário também dimensionar o papel da escola: não se trata de valorizar uma interpretação da escola salvacionista quando esta deveria compensar todas as lacunas existentes na sociedade moderna, porém é inegável admitir que esta escola disponha de um momento privilegiado para confrontar alguns destes elementos que compõem o ambiente societário e que vivem nossos jovens. Uma fala comum para negar uma prática que vise confrontar esta dominação ideológica, seria a de que:
- esta reflexão não seria o papel da escola;
- é fácil falar fora da escola;
- na prática não é bem assim...
Contudo costumo refutar estas defesas quando coloco que a escola está sempre executando alguma prática pedagógica, não se trata de propor algo a alguém que por alguma razão não esteja trabalhando, ao contrário, é propor algo a alguém que está lá na ponta executando uma ação. A idéia é apenas a de fazer uma reflexão crítica sobre estas práticas desenvolvidas na escola, não há como negar a gravidade enquanto modelo de alienação e subordinação ao capitalismo, quando se realiza uma festa de final de ano em que se faça um esforço enorme para se trazer um Papai Noel. Portanto, repare que não seria difícil não trazer o Papai Noel, difícil é trazer o Papai Noel.
Logo a idéia de fazer uma festa de final de ano em que se monte um presépio e se debata o espírito de natal enquanto nascimento de Jesus cristo, em contrapartida a distribuição de presentes de um velhinho em roupas de inverno, não é uma tarefa árdua que demande grandes esforços, ao contrário, talvez seja mais cômodo que o esforço de se conseguir um bom velhinho, sem contar obviamente com o ganho, do ponto de vista pedagógico, desta ação.
A lembrança desta prática tem por objetivo elucidar como a prática pedagógica pode reafirmar a condição consumista de parte importante de nossa juventude. Neste sentido, esta prática pode reproduzir, dentre outras, a submissão, a subordinação social, a dominação, a alienação e a aceitação de valores que poderão, em última instancia, levar esta juventude a buscar sanar este desejo, irresponsavelmente reafirmado pela escola, utilizando-se dos meios que lhe forem possíveis. Portanto, se faz necessário repensar métodos e técnicas da organização escolar, práticas pedagógicas que ocorram em função da construção solidaria, da cooperação, da liberdade e cooperação, ação do corpo pelas trocas e respeito mútuo.

Um comentário:

  1. Marcelo Mourão - UERJ Filosofia28 de dezembro de 2011 às 04:23

    O referido acima faz-se bastante necessário num período que os "ritos" de trocas de afetos (presentes) estão dominando as pessoas; não abrindo espaço para preocupações mais profundas como a ausência de boa parte deste "expediente natalino" a população sem poder aquisitivo. A escola detêm como parte de suas atribuições levantar nos seus discentes a reflexão, não tratando de ser uma ação radical de marxismo para uma aniquilação do rito natalino, mas uma indagação dos veículos e processos por trás deste evento; permitindo aos mesmos até deixarem se levar pelo não cumprimento destes mesmos ritos, sem arraigarem em si o sentimento de falta e frustração por não terem sido beneficiados na data, que vemos por exemplo nas lojas, parecem terem se esquecido do que estamos efetivamente comemorando.
    Vendo sobre este prisma, a função do docente remete a função do ícone natalino, Papai Noel, que leva seus presentes (saber e reflexão) a todo menino(a), seja rico ou seja pobre (mas não na maior parte dos casos, como sabemos), trazendo uma felicidade que grande parte de nossos alunos ainda não conseguem identificar, mas que invariavelmente, em algum momento de suas vidas, hão de perceberem o melhor presente que poderiam ter ganho.

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